quarta-feira, 8 de julho de 2015

Planos de Educação: pensando (ou não) os próximos dez anos


Nas últimas semanas passamos pelo Brasil inteiro por uma grande discussão: os Planos de Educação dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Pensar que os Planos tiveram espaço inclusive nos telejornais em horários nobres nos deveria trazer muita satisfação, pois isso significaria que a sociedade realmente participou e se preocupou com o rumo dos próximos dez anos da Educação. Entretanto, para a tristeza das muitas pessoas que debateram e participaram realmente das Conferências de Educação, um determinado setor da sociedade polarizou as vinte metas do Plano Nacional de Educação e, consequentemente, dos Planos estaduais e municipais em torno de uma temática: o gênero.

Nesta ótica, vinte metas e suas estratégias deixaram de existir. Todo um debate em torno da valorização dos profissionais, do acesso a todos e todas, da ampliação do número de mestres e doutores, da inclusão, da importância dos colegiados no seio da Educação, foram deixados de lado e uma inversão da temática identidade de gênero foi feita. Cabe ainda destacar, que a discussão feita na última semana não levou em conta o que os Planos pensaram para os próximos dez anos, pois a concepção a ser discutida e desmitificada dentro da escola (sim, porque a escola não diria o certo ou o errado, mas sim dialogaria as diferenças de uma sociedade que ainda é muito excludente) não foi vista pela ótica da Educação emancipadora, mas sim sob a perspectiva do pré-conceito e do preconceito que nossa sociedade ainda nutre.

A identidade de gênero não é uma disciplina ou mesmo um conteúdo a ser ministrado, mas sim um tema transversal que precisa sim fazer parte desde a Educação Infantil ao Ensino Superior, pois só assim não veremos mais nestes mesmos telejornais jovens sendo mortos por outros jovens ou mesmo ceifando suas próprias vidas. Não se pensa em apologia ao que é certo ou ao que é errado, mas sim construir possibilidades de seres humanos mais humanos e que a palavra respeito não seja apenas para os iguais, mas sim para todas as diferenças.

Pensar num Plano de Educação somente sob uma perspectiva é diminuir mais uma vez a Educação! Precisamos nos preocupar com todos os aspectos que os Planos trazem, onde nenhum deles é mais ou menos importante, até porque queremos que todas as metas sejam cumpridas.

Quem sabe, em 2024, além dos duzentos anos de São Leopoldo, serão os dez anos do PNE, possamos ver que retirar a identidade de gênero tenha feito muita falta para a Educação e que a ideia seja: as diferenças existem e todas elas precisam ser discutidas dentro das escolas e universidades, pois só assim teremos a Educação de Qualidade Social que realmente queremos para nossas crianças, jovens e adultos.



                                                                                                                                             Fabiane Bitello
                                                                                                           Professora e Conselheira de Educação

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